Estreio no blog falando da desvalorização do trabalho. Mas não é qualquer trabalho. É aquele exercido na fronteira EUA-México, mais precisamente na cidade de Juarez, onde, desde janeiro de 1994, está vigente o Nafta (Tratado de Livre Comércio).
Talvez alguns tenham idéia do que é trabalhar nesse local, ou em qualquer outro que faça parte do Nafta. Para os que não têm, imaginem o seguinte: você está em uma fábrica, chamada de maquiladora, apertando parafusos em um ritmo intenso, sem poder parar para, sequer, ir ao banheiro.
Às vezes você também fica exposto a produtos químicos proibidos em diversos países (entre eles, os EUA), sem nenhum tipo de proteção (nem de equipamentos, nem jurídica), e isso causa dores de cabeça, vômito e palpitações cardíacas em você. Sabe aquela lesão por movimento repetitivo que você adquiriu apertando parafusos freneticamente? Ela não será tratada porque você não tem convênio médico nem acesso à saúde pública, e você perderá o movimento das mãos.
Para as mulheres, que representam 70% dos trabalhadores das maquiladoras, aqueles produtos químicos geram graves problemas quando elas estão grávidas. Desde o aborto até a anencefalia. Isso sem contar os milhares casos de violência contra a mulher, que é abordada ao sair das fábricas, principalmente no período noturno.
E sabem por que esses trabalhadores se sujeitam a isso? Para não passar fome, uma vez que o próprio governo mexicano faz todo o possível para levar mais e mais gente para cidades como Juarez, tomando as terras dessas pessoas, por exemplo.
O pior de tudo não é nem imaginar que essa situação pode fazer parte da realidade brasileira, caso a ALCA seja aprovada por aqui, mas sim olhar para a tela do computador sem ter certeza se ela passou ou não pela mão desses trabalhadores.
Será que nós contribuímos com a desvalorização e exploração, não só do trabalho, mas do ser humano?
=> Dica de Filme: Cidade do Silêncio (Bordertown)
Segundo o Houaiss, TRABALHO é: sm. fis. grandeza que pode ser definida como o produto da magnitude de uma força e a distância percorrida pelo ponto de aplicação da força na direção desta (τ); esforço incomum; luta, lida, faina; conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim; atividade profissional regular, remunerada ou assalariada; qualquer obra realizada (manual, artística, intelectual etc.).
30 de agosto de 2007
Acordo de Livre Comércio em Prol do Capital
Postado por Denise Moraes às 09:00:00
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5 comentários:
Não diria colaboração, mas a ganância humana, a disparidade social, a superpopulação, a fata de recursos, e etc, levam a estes casos.
E vc nem precisa ir muito longe, aqui mesmo no Brasil temos diversos exemplos em locais distantes ou até mesmo perto das grandes capitais.
Parabens pelo ótimo texto.
Fábio.
Acho que infelizmente a população de forma indireta acaba contribuindo (ao consumir produtos), pois só há oferta, se houver demanda. E, por outro lado, pouco se tem de conhecimento e divulgação a respeito da industrialização de certos produtos (assista Diamante de Sangue)...
Acho que a forma de cooperar neste sentido, é denunciando à órgãos competentes, quando houver. Além de contarmos com a contribuição de entidades (ONGs e afins) que atuam para mitigação destes problemas.
É lamentável que exista trabalho nestes níveis de condições nos dias de hoje....
Muito bom seu texto!
Abraços!
O artigo levanta um ponto interessante em torno da regulação das condições de trabalho, que se deve a regulações específicas de mercado de trabalho, e não ao acordo de livre comércio. Por exemplo, no Brasil, onde não há acordo de livre comércio, há situações tão ruins quanto, que se devem à má regulação trabalhista no país. Assim, seria interessante levar adiante esta discussão, focando-a nas suas principais causas, sem usar rótulos ideológicos antigos que não contribuem para a melhoria das condições daqueles trabalhadores oprimidos. No fundo, eles estão sendo duplamente usados: de um lado, pelos seus patrões atuais; e, de outro lado, pelos opositores do Nafta, notadamente alguns governos latino-americanos corruptos que se dizem de esquerda, e que usam aqueles pobres coitados como bandeiras para causas que não têm nada a ver com eles. É óbvio que o fim do Nafta não traria qualquer melhora na situação daqueles trabalhadores, pois a questão é de regulação trabalhista, mas certamente beneficiaria a poderosos líderes esquerdistas em países da região, incluindo Venezuela, Argentina e até mesmo no Brasil.
Quero parabenizá-la porque poucos artigos e matérias conseguem me causar o efeito que este me causou - texta franzida, lábios apertados. Repulsa. Indignação. Nojo. E um misto de tristeza e raiva por não poder fazer nada.
Aí eu me pergunto a mesma coisa que me perguntava na época em que o exército do Bush, fantasiado do herói mais bizarro e surreal que existe, tomava o poder na capital do petróleo: é moralmente ético ver isso acontecer, se não vamos fazer nada?
Gostaria que essa pergunta estivesse presente na vida de todo mundo. Talvez assim nossa memória para tragédias fosse menos curta. E talvez, sendo ainda mais otimista, em algum momento alguém (inclusive eu) se cansasse de se perguntar isso e começasse a buscar a resposta através de ação...
Obs.: leia-se "testa", não "texta".
A comoção leva a gente a errar.
=oP
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