Segundo o Houaiss, TRABALHO é: sm. fis. grandeza que pode ser definida como o produto da magnitude de uma força e a distância percorrida pelo ponto de aplicação da força na direção desta (τ); esforço incomum; luta, lida, faina; conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim; atividade profissional regular, remunerada ou assalariada; qualquer obra realizada (manual, artística, intelectual etc.).

30 de agosto de 2007

Acordo de Livre Comércio em Prol do Capital

Estreio no blog falando da desvalorização do trabalho. Mas não é qualquer trabalho. É aquele exercido na fronteira EUA-México, mais precisamente na cidade de Juarez, onde, desde janeiro de 1994, está vigente o Nafta (Tratado de Livre Comércio).

Talvez alguns tenham idéia do que é trabalhar nesse local, ou em qualquer outro que faça parte do Nafta. Para
os que não têm, imaginem o seguinte: você está em uma fábrica, chamada de maquiladora, apertando parafusos em um ritmo intenso, sem poder parar para, sequer, ir ao banheiro.

Às vezes você também fica exposto a produtos químicos proibidos em diversos países (entre eles, os EUA), sem nenhum tipo de proteção (nem de equipamentos, nem jurídica), e isso causa dores de cabeça, vômito e palpitações cardíacas em você. Sabe aquela lesão por movimento repetitivo que você adquiriu apertando parafusos freneticamente? Ela não será tratada porque você não tem convênio médico nem acesso à saúde pública, e você perderá o movimento das mãos.

Para as mulheres, que representam 70% dos trabalhadores das maquiladoras, aqueles produtos químicos geram graves problemas quando elas estão grávidas. Desde o aborto até a anencefalia. Isso sem contar os milhares casos de violência contra a mulher, que é abordada ao sair das fábricas, principalmente no período noturno.

E sabem por que esses trabalhadores se sujeitam a isso? Para não passar fome, uma vez que o próprio governo mexicano faz todo o possível para levar mais e mais gente para cidades como Juarez, tomando as terras dessas pessoas, por exemplo.

O pior de tudo não é nem imaginar que essa situação pode fazer parte da realidade brasileira, caso a ALCA seja aprovada por aqui, mas sim olhar para a tela do computador sem ter certeza se ela passou ou não pela mão desses trabalhadores.

Será que nós contribuímos com a desvalorização e exploração, não só do trabalho, mas do ser humano?

=> Dica de Filme: Cidade do Silêncio (Bordertown)

5 comentários:

Fábio Luis disse...

Não diria colaboração, mas a ganância humana, a disparidade social, a superpopulação, a fata de recursos, e etc, levam a estes casos.
E vc nem precisa ir muito longe, aqui mesmo no Brasil temos diversos exemplos em locais distantes ou até mesmo perto das grandes capitais.

Parabens pelo ótimo texto.
Fábio.

Anônimo disse...

Acho que infelizmente a população de forma indireta acaba contribuindo (ao consumir produtos), pois só há oferta, se houver demanda. E, por outro lado, pouco se tem de conhecimento e divulgação a respeito da industrialização de certos produtos (assista Diamante de Sangue)...
Acho que a forma de cooperar neste sentido, é denunciando à órgãos competentes, quando houver. Além de contarmos com a contribuição de entidades (ONGs e afins) que atuam para mitigação destes problemas.
É lamentável que exista trabalho nestes níveis de condições nos dias de hoje....
Muito bom seu texto!
Abraços!

Anônimo disse...

O artigo levanta um ponto interessante em torno da regulação das condições de trabalho, que se deve a regulações específicas de mercado de trabalho, e não ao acordo de livre comércio. Por exemplo, no Brasil, onde não há acordo de livre comércio, há situações tão ruins quanto, que se devem à má regulação trabalhista no país. Assim, seria interessante levar adiante esta discussão, focando-a nas suas principais causas, sem usar rótulos ideológicos antigos que não contribuem para a melhoria das condições daqueles trabalhadores oprimidos. No fundo, eles estão sendo duplamente usados: de um lado, pelos seus patrões atuais; e, de outro lado, pelos opositores do Nafta, notadamente alguns governos latino-americanos corruptos que se dizem de esquerda, e que usam aqueles pobres coitados como bandeiras para causas que não têm nada a ver com eles. É óbvio que o fim do Nafta não traria qualquer melhora na situação daqueles trabalhadores, pois a questão é de regulação trabalhista, mas certamente beneficiaria a poderosos líderes esquerdistas em países da região, incluindo Venezuela, Argentina e até mesmo no Brasil.

Anônimo disse...

Quero parabenizá-la porque poucos artigos e matérias conseguem me causar o efeito que este me causou - texta franzida, lábios apertados. Repulsa. Indignação. Nojo. E um misto de tristeza e raiva por não poder fazer nada.
Aí eu me pergunto a mesma coisa que me perguntava na época em que o exército do Bush, fantasiado do herói mais bizarro e surreal que existe, tomava o poder na capital do petróleo: é moralmente ético ver isso acontecer, se não vamos fazer nada?
Gostaria que essa pergunta estivesse presente na vida de todo mundo. Talvez assim nossa memória para tragédias fosse menos curta. E talvez, sendo ainda mais otimista, em algum momento alguém (inclusive eu) se cansasse de se perguntar isso e começasse a buscar a resposta através de ação...

Anônimo disse...

Obs.: leia-se "testa", não "texta".
A comoção leva a gente a errar.
=oP