(...)Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
(Carlos Drummond de Andrade- Cidadezinha Qualquer)
Quem é Quem é: você vê todo dia mas não sabe nada à respeito dele e seu contato com ele é absolutamente superficial?
É o porteiro!
Eu sei que o porteiro do meu prédio chama Juarez. E que ele me dá bom dia e abre a porta pra mim. E que minha mãe dá uma pinga pra ele no Natal. Sempre de bom-humor e com um radinho de pilha no jogo do Santos. Educado e cordial, lava meu carro, ajuda com as compras e entrega a correspondência.
Eu sempre tive a curiosidade de saber como é o mundo de dentro de uma guarita, como é viver a realidade nessa suspensão de tempo, sentindo apenas um vento insípido e assistindo a banal rotina como um eterno espectador do espetáculo cotidiano.
Será que ele é um mero abridor de portas, eventual quebra-galho? O que pensa alguém que passa o dia- ou a madrugada- nesse tédio? Será que é preconceito da minha parte achar que não é possível fazer esse emprego ser empolgante?
Pensando bem, por ser um exímio observador, ele deve ter muita história pra contar... Nada passa despercebido por seus olhos e ouvidos afiados transformando-os numa revista-viva das fofocas da rua e até dos podres dos moradores. Quem chega bêbado, acompanhado cada dia com uma, quem dá uns amassos na escada de emergência do prédio ou aquela mijada desesperada na garagem.
Eu só sei de uma coisa: se o porteiro contasse tudo o que visse, muita gente estaria frita.
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