“(...) E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia "sim"
Começa a dizer "não"
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uisque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução(...) ”
(Vinicius de Moraes- Operário em construção)
Recentemente, fui visitar um assentamento do MST, no Tremembé. Dona Maria foi quem guiou a visita. As casas que visitamos eram muito pobres, simples, e as pessoas muito humildes. Mas o que chama mais atenção é que aquela simplicidade toda não faz seus moradores ignorantes. É de se impressionar o que essa simpática negra de chapéu de palha e olhar firme tem de consciência política.
Ela contou ao grupo que teve chance de procurar emprego nas cidades, como muitos fizeram, mas ela optou pela liberdade no campo, mesmo com a vida sofrida, do que se submeter à relação exploratória que teria sendo doméstica nos caos urbanos. Marx escreveu: “o que o operário obtém com o seu trabalho é o estritamente necessário para mera conservação e reprodução de sua vida”. Dona Maria já percebeu.
Contudo, a lucidez de dona Maria não se repete em muitas empresas corporativistas, que fazem o empregado se sentir como sendo parte de uma grande família, mascarando, assim, a relação exploratória. Há quem vista a camiseta da empresa e saia berrando para os quatro ventos o nome da companhia. O extremo dessa tática vocês podem conferir aqui.
Lembro vagamente de um conto de Victor Giudice que li ano passado, chamado O Arquivo (hoje estou cheia das citações, não é mesmo?), em que joão (com minúscula mesmo, pra ressaltar a insignificância da personagem), após 40 anos de serviço, vai decaindo cada vez mais de posição-e mostra-se contente com isso, daí a beleza da ironia- até ser transformado em um arquivo de metal.
A Mais Valia é real, meu caro, ou você realmente acreditou naquele conto do arco da velha que, se você se matar de trabalhar, conseguirá acumular dinheiro?
Segundo o Houaiss, TRABALHO é: sm. fis. grandeza que pode ser definida como o produto da magnitude de uma força e a distância percorrida pelo ponto de aplicação da força na direção desta (τ); esforço incomum; luta, lida, faina; conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim; atividade profissional regular, remunerada ou assalariada; qualquer obra realizada (manual, artística, intelectual etc.).
4 de setembro de 2007
Dona Maria não quer ser empregada
Postado por Adriana Feder às 02:43:00
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Um comentário:
Dri!
O Blogger trocou meu dia...mesmo rascunhando,omg!
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